À técnica seria absurdo que a recusássemos,
lhe recusássemos a espantosa facilitação da vida,
por mais que a essa vida ela perturbe - como aos seus doutrinadores.
Uma máquina é pura, desde a inocência com que se nos revela,
ou seja precisamente a exterioridade em que se nos dá.
Mas uma inocência é uma abertura à realização do que o não é.
O destino de uma máquina tem o destino que lhe dermos,
e um dos piores é o finalizá-la nela própria.
Assim e para lá da criação do seu próprio espaço, por uma máquina, da alteração que a sua própria existência em nós promove, todo o problema se decide no lugar-comum desta alternativa:
remeter a máquina ao homem ou degradar o homem à máquina.
Vergílio Ferreira, in 'Invocação ao Meu Corpo'